Olá queridos!
Na última aula falamos sobre o
governo de D. Pedro I, que conseguiu tornar um Brasil num país independente de
Portugal, apesar dele mesmo ser português. Ele criou uma constituição (conjunto
de leis) para nós, mas nessa constituição ele é que mandava. Depois de algum
tempo, em 1831, morreu o pai de D. Pedro I, rei de Portugal. E agora?
D. Pedro I acabou indo pra
Portugal assumir o trono para não perder o poder. Mas e o Brasil? Ele deixou o
filho dele, D. Pedro II, governando o Brasil. Detalhe: o menino tinha 5 anos de
idade!!!!!
Como uma criança pode governar um
país?
Enquanto o menino não atingisse a
maioridade, que na época era de 21 anos, quem governaria o país seriam os
políticos da época. Esses governantes passaram a ser chamados de REGENTES (de
reger mesmo, tipo administrar).
A princípio, o país foi governado
por 3 regentes. Esse período ficou conhecido como Regência Trina Provisória,
porque o objetivo era que eles governassem por pouco tempo: só até os políticos
votarem nos regentes permanentes, que foi o que aconteceu. Mas esses políticos
não eram um grupo muito unido.
Como vimos na outra aula, havia 3
grupos principais de políticos no Brasil Os PORTUGUESES, que viraram
RESTAURADORES e depois deixaram de existir porque o Brasil nunca mais voltaria
para o domínio de Portugal; os MONARQUISTAS, que depois viraram LIBERAIS
MODERADOS, mais tarde GRUPO REGRESSISTA e finalmente PARTIDO CONSERVADOR; e os
REPUBLICANOS que depois viraram LIBERAIS EXALTADOS, mais tarde GRUPO
PROGRESSISTA e finalmente PARTIDO LIBERAL.
Esse desencontro entre os próprio
políticos se refletia na população brasileira: por todo o país surgiam revoltas
contra atitudes do governo. Os regentes tentaram, então, medidas liberais,
dando poderes aos chefes de cada região: criou-se a Guarda Nacional (pra
proteger as grandes propriedades de terra) e o cargo de Juiz de Paz (para
julgar problemas locais). Isso deu muito poder aos fazendeiros, que passaram a
ser chamados de CORONÉIS (como a gente vê nas novelas!).
Mas essas medidas do governo não
deram certo. As revoltas continuavam e finalmente eles decidiram acabar com a
Regência Trina e o país passou a ser governado por uma Regência Uma (um só cara
no comando). Esse cara foi o padre Diogo Antônio Feijó. Só que o Feijó era meio
‘fora da casinha’, e em 1836 acabou renunciando. Quem assumiu o governo foi
Araújo Lima (um político que era senhor de engenhos).
Apesar de todas as tentativas, o
Brasil seguia com revoltas, e os políticos decidiram então colocar logo D.
Pedro I para governar. Assinaram uma lei diminuindo a maioridade de 21 para 14
anos de idade. E em 1840, D. Pedro II se tornou Imperador do Brasil, com 14
anos de idade. Esse episódio ficou conhecido como Golpe da Maioridade.
Abaixo segue um resumos das
revoltas do período regencial.
Na próxima aula veremos que todas
essas revoltas do Brasil tiveram aliados importantes: as revoltas que estavam
acontecendo na Europa nesse mesmo período. Até lá!
CABANAGEM (1835-1840)
A questão da autonomia política foi, desde a independência, a grande
força motriz motivadora de diversos conflitos e revoltas no Brasil. Na
província do Pará, a péssima condição de vida das camadas mais baixas da
população e a insatisfação das elites locais representavam a crise de legitimidade
sofrida pelos representantes locais do poder imperial. Além disso, a relação
conflituosa entre os paraenses e os comerciantes portugueses acentuava outro
aspecto da tensão socioeconômica da região.
A abdicação de Dom Pedro I e ascensão do governo regencial estabeleceram
a deflagração de um movimento iniciado em 1832. Naquele ano, um grupo armado
impediu a posse do governador nomeado pela regência e exigia a expulsão dos
comerciantes portugueses da província. No ano seguinte, Bernardo Lobo de Sousa,
novo governador nomeado, administrou o Pará de maneira opressiva e autoritária.
Desta maneira, abriam-se tensões e a possibilidade de uma nova revolta
provincial.
Em 1835, um motim organizado pelo fazendeiro Félix Clemente Malcher e
Francisco Vinagre prendeu e executou o governador Bernardo Lobo de Sousa. Os
rebelados, também chamados de cabanos, instalaram um novo governo controlado
por Malcher. Francisco Vinagre, líder das tropas do novo governo, se
desentendeu com o novo governador. Aproveitando de seu controle sobre as forças
militares, tentou tomar o governo, mas foi preso pelo governador. Em resposta,
Antônio Vinagre, irmão de Francisco, assassinou Félix Clemente Malcher e
colocou Francisco Vinagre na liderança do novo governo.
Nessa nova etapa, Eduardo Angelim, líder popular, ascendia entre os
revoltosos. A saída das elites do movimento causou o enfraquecimento da
revolta. Tentando aproveitar desta situação, as autoridades imperiais enviaram
o almirante britânico John Taylor, que retomou o controle sobre Belém, capital
da província. No entanto, a ampla adesão popular do movimento não se submeteu à
vitória imperial. Um exército de 3 mil homens liderados por Angelim retomou a
capital e proclamou um governo republicano independente.
O governo, agora controlado por Angelim, abria possibilidades para a
resolução dos problemas sociais e econômicos que afligiam as camadas populares.
No entanto, a falta de apoio político de outras províncias e a carestia de
recursos prejudicou a estabilidade da república popular. Sucessivas investidas
militares imperiais foram enfraquecendo o movimento cabano. Em 1836, Eduardo
Angelim foi capturado pelas autoridades do governo imperial.
Entre 1837 e 1840, os conflitos no interior foram controlados. Diversas
batalhas fizeram com que este movimento ficasse marcado por sua violência.
Estima-se que mais de 30 mil pessoas foram mortas. Dessa maneira, a Cabanagem
encerrou a única revolta regencial onde os populares conseguiram, mesmo que por
um breve período, sustentar um movimento de oposição ao governo.
Por Rainer Sousa - Graduado em História
BALAIADA (1838-1841)
Nas obras que tratam dos primeiros anos da independência política do
Brasil, muitos historiadores dão especial destaque ao fato de que os
privilégios e desmandos que marcavam o passado colonial não foram superados com
o estabelecimento da independência do país. Um dos casos em que tal perspectiva
é ainda mais evidente encontra-se na revolta da Balaiada, ocorrida em 1838, no
Maranhão.
No século XIX, a economia maranhense atravessou uma forte crise, em
grande parte decorrente da concorrência do algodão norte-americano no mercado
internacional. Além disso, o estabelecimento da Lei dos Prefeitos – que
concedia ao governador o privilégio de nomear os prefeitos municipais – causou outro
tipo de atrito onde o mandonismo político acirrou as relações do povo com as
instituições governamentais.
Dessa forma, podemos ver que a presença de três líderes nessa revolta,
que muito bem representou a situação política ali vivida, impulsionou diversos
focos de tensão. Raimundo Gomes, um dos primeiros líderes da revolta, mobilizou
um grupo de escravos, vaqueiros e artesãos logo depois de libertar um grupo de
vaqueiros aprisionados em Vila da Manga, a mando de um opositor político do
patrão daqueles mesmos trabalhadores.
O artesão Manoel dos Anjos Ferreira, conhecido como Balaio, começou a
lutar contras as autoridades provinciais depois de acusar o oficial Antônio
Raymundo Guimarães de ter abusado sexualmente de suas filhas. Após conquistar
vários adeptos, os revoltosos conseguiram controlar a cidade de Caxias, um dos
maiores centro comerciais da época. A natureza popular desse movimento em muito
ameaçou a estabilidade dos privilégios econômicos daqueles que detinham o poder
na época.
Naquele mesmo ano, o negro Cosme Bento de Chagas, contou com o apoio de,
aproximadamente, 3 mil escravos fugidos. O grande número de negros envolvidos
na revolta deu traços raciais à questão da desigualdade ali colocada. Em
resposta aos levantes, o coronel Luis Alves de Lima e Silva foi nomeado para
controlar a tensa situação da província.
Em 1841, com farto armamento e um grupo de 8 mil homens, Luis Alves
obteve sucesso na contenção dos revoltosos e, por isso, recebeu o título de
Conde de Caxias. A desarticulação entre os vários braços revoltosos da Balaiada
e a desunião em torno de objetivos comuns, facilitou bastante a ação repressora
estabelecida pelas forças governamentais.
Todos os negros fugidos acusados de envolvimento na revolta foram
reescravizados. Manoel Francisco Gomes foi abatido durante o movimento de
retaliação da revolta. Já o vaqueiro Raimundo Gomes foi expulso do Maranhão e,
durante sua deportação para São Paulo, faleceu em uma embarcação. O líder dos
escravos, Cosme Bento, foi preso e condenado à forca em 1842.
Por Rainer Sousa - Graduado em História
SABINADA (1837-1838)
A Bahia, desde o período colonial, se destacou como palco de luta contra
a opressão política e o desmando governamental. A Sabinada foi um movimento que
teve início entre as elites militares, médicas e jornalistas baianas, seu
principal idealizador foi Francisco Sabino, médico e jornalista; entretanto, o
movimento se destacou por ter grande participação das camadas populares.
Antes do seu desenvolvimento, um grupo de negros malês tentou conquistar
a cidade de Salvador. Contudo, mediante a delação às autoridades, essa primeira
revolta não se desenvolveu. Nesse segundo momento, liderados pelo médico
Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, os participantes da Sabinada se
opsueram à mal resolvida questão da centralização política que se arrastava
desde o início do Brasil Império.
Em 7 de novembro de 1837, o movimento conseguiu a adoção dos militares da
Fortaleza de São Pedro. Contando com tal apoio, os revoltosos obrigaram o
governador Francisco de Souza Paraíso a abandonar seu cargo. Logo após o golpe
político, Sabino e seus comparsas decretaram a criação da República Bahiense.
Apesar de conseguir sua consolidação, o novo governo se instituiu em
caráter transitório, até que o herdeiro do trono brasileiro, Dom Pedro II,
chegasse à maioridade. No âmbito social, a nova república, criada em solo
baiano, prometia conceder liberdade a todos os escravos que apoiassem o
governo.
Em resposta ao movimento, o governo regencial nomeou um novo governador e
organizou um destacamento de forças militares destinadas a dar fim ao levante.
Após bloquear as saídas marítimas de Salvador, as tropas do governo iniciaram o
ataque terrestre. Entre os dias 13 e 15 de março, as ruas de Salvador foram
ocupadas pelas forças regenciais, que renderam os participantes da revolta.
Logo após a batalha, os líderes da revolta foram julgados, sendo que três
foram condenados à morte e os demais à prisão perpétua. No entanto, as penas
foram posteriormente abrandadas para o degredo em território nacional.
Por Rainer Sousa - Graduado em História
FARRAPOS (1835-1845)
Durante a regência, a questão da centralização política incitou a
organização de diferentes revoltas que constantemente ameaçavam a unidade do
território brasileiro. Na região sul, as elites pecuaristas se colocaram em um
delicado confronto com o governo federal ao se revoltarem com a política fiscal
promovida na época. Onerosos tributos eram cobrados sob a produção do charque,
do couro e dos muares que representavam os principais gêneros exportados pela
elite pecuarista gaúcha.
Na década de 1830, as autoridades do governo resolveram intensificar as
cobranças sob tais gêneros com a criação de postos fiscais que garantiriam a
cobrança junto aos produtores de charque gaúchos. Essa política adotada acabava
beneficiando a entrada do charque uruguaio no mercado brasileiro, que
diferentemente dos gaúchos, arcava com uma alíquota alfandegária bem menor.
Insatisfeitos com essa situação, um grupo de grandes proprietários organizou um
levante que derrubou o governador provincial em 1835.
O sucesso obtido na ação dos revoltosos – liderados por Bento Gonçalves –
marcou a deflagração da Revolução Farroupilha, também conhecida como Guerra dos
Farrapos. Primeiramente, os farrapos (assim conhecidos pelo lenço vermelho que
tinham preso a suas vestes) dominaram a cidade de Porto Alegre e exigiram a
nomeação de um novo presidente de província. No ano seguinte, em 1836, com a
intransigência do poder central, os primeiros confrontos aconteceram entre os
farrapos e as tropas oficiais.
Inicialmente, as forças de repressão conseguiram enfraquecer a ação dos
farrapos promovendo a retomada da capital. Após a batalha de Seival, os
farrapos demonstraram sua resistência ao proclamarem a criação da República Rio-Grandense,
com sede na cidade de Piratini, e dirigida por Bento Gonçalves. Em resposta, os
legalistas venceram a batalha de Fanfa, onde aprisionaram vários revoltosos,
incluindo o presidente Bento Gonçalves.
Nos dois anos seguintes, os confrontos se alongaram e os farrapos
ganharam o apoio de duas novas lideranças revolucionárias: o brasileiro David
Canabarro e o italiano Giuseppe Garibaldi. Com o apoio destes exímios
combatentes, os revolucionários conseguiram novas vitórias. Em julho de 1839,
partiram em direção de Santa Catarina, onde conquistaram a cidade de Laguna e
proclamaram o surgimento da chamada República Juliana.
Com o prolongamento do conflito, o governo designou o Barão de Caxias
para conduzir as tropas da Guarda Nacional. Nessa mesma época, dissidências
políticas e a crise econômica acabaram ameaçando as intenções dos
revolucionários. De fato, nenhum dos lados desta guerra tinha condições
suficientes para oferecer resistência. Com isso, o próprio governo optou em
desmobilizar os farrapos atendendo a sua principal reivindicação: o aumento da
taxa sobre o charque estrangeiro.
A partir de então, o Barão de Caxias começou a articular as negociações
que, finalmente, encerrariam essa penosa guerra. Após serem derrotados na
batalha dos Porongos, em 1844, os farrapos enviaram um grupo que negociaria
secretamente a rendição das tropas insurgentes na capital federal. Em março de
1845, o tratado do Ponche Verde garantiu os interesses dos revolucionários
gaúchos e a hegemonia territorial do império.
Por Rainer Sousa - Graduado em História
MALÊS (1937)
A revolta dos Malês pode ser compreendida como um conflito que deflagrou
oposição contra duas práticas comuns herdadas do sistema colonial português: a
escravidão e a intolerância religiosa. Comandada por negros de orientação
religiosa islâmica, conhecidos como malês, essa revolta ainda foi resultado do
desmando político e da miséria econômica do período regencial.
Com o deslocamento do eixo econômico-admininstrativo do Brasil para a
região sudeste e as constantes crises da economia açucareira, a sociedade
baiana do período tornou-se um sinônimo de atraso econômico e desigualdade
socioeconômica. Além desses fatores, devemos também destacar que as prescrições
religiosas incentivadas pelas autoridades locais promoveram a mobilização desse
grupo étnico-religioso específico.
Anos antes da revolta, as autoridades policiais tinham proibido qualquer
tipo de manifestação religiosa em Salvador. Logo depois, a mesquita da
“Vitória” – reduto dos negros muçulmanos – foi destruída e dois importantes
chefes religiosos da região foram presos pelas autoridades. Dessa maneira, os
malês começaram a arquitetar um motim programado para o dia 25 de janeiro de
1835.
Nesta data, uma festa religiosa na cidade Bonfim esvaziaria as ruas de
Salvador dando melhores condições para a deflagração do movimento. Naquela
mesma data, conforme a tradição local, os escravos ficariam livres da
vigilância de seus senhores. Entre os ideais defendidos pelos maleses, damos
destaque à questão da abolição da escravatura e o processo de africanização de
Salvador por meio do extermínio de brancos e mulatos.
Mesmo prevendo todos os passos da rebelião, o movimento não conseguiu se
instaurar conforme o planejado. A delação feita por dois negros libertos acionou
um conflito entre as tropas imperiais e os negros malês. Sem contar com as
mesmas condições das forças repressoras do Império, o movimento foi controlado
e seus envolvidos punidos de forma diversa. Apesar de não alcançar o triunfo
esperado, a Revolta dos Malês abalou as elites baianas mediante a possibilidade
de uma revolta geral dos escravos.
Por Rainer Sousa - Graduado em História